O caro desenvolvimentismo de Juscelino Kubitscheck nos legou Brasília. Em cinco anos, se construiu uma cidade. O igualmente caro desenvolvimentismo de James Ribeiro nos legou a atual Palmeira dos Índios, uma cidade estagnada há anos que há exatos três não consegue terminar o que começou: a reforma de uma praça.
A reforma geral da Praça do Skate (como é conhecida pelos mais jovens a Praça Humberto Mendes, também chamada pelos mais velhos de Praça da SAMBRA) é um dos muitos empreendimentos da gestão positivista “Amor, ordem e progresso” que simbolizam o marasmo da cidade, desenvolvida somente no mesmo mundo fictício onde se originam as explicações para a trienal demora.
Três anos (quase um mandato) nos exigem reflexão. Aliás, um passeio pelo logradouro inconcluso, incompleto, com formato incompreensível, nos faz ver que ele se tornou um espaço filosófico. É difícil que alguém, lá passando, não tenha alguma vez se questionado: “o que é isto?”.
Segundo dados do Portal da Transparência do Governo Federal, o convênio referente à obra é concedido pelo Ministério do Turismo e totaliza, junto com a reforma da Praça de Palmeira de Fora, R$ 487.500,00 (quatrocentos e oitenta e sete mil e quinhentos reais), dos quais R$ 232.683,75 (duzentos e trinta e dois mil, seiscentos e oitenta e três reais e setenta e cinco centavos) já foram liberados em parcelas. A vigência do convênio começou em 30 de dezembro de 2009 e termina em 5 de janeiro de 2015, embora a placa da obra afirme o prazo de 150 dias para a conclusão geral dos trabalhos.
É verdade que a Praça carecia de reparos. Precisou cair sozinho (destino certo de muitos equipamentos públicos palmeirenses nos últimos tempos) o coreto que lá existia para que se tomasse uma atitude de reparação. A praça estava abandonada, de fato. Mas ainda havia vida, presença, frescor de árvores e gente. O “amor”, a “ordem” e o “progresso”, com festa pirotécnica para começar os trabalhos, passaram por cima de tudo, desmancharam o que havia, derrubaram todas as árvores, cimentaram quase todo o chão, dispersaram as pessoas, maltrataram a memória, marginalizaram o espaço, pulverizaram do lugar a vida.
De lá para cá, só mentiras quanto à entrega da praça pronta. Em ordem cronológica, a primeira grande lorota foi contada pelo secretário municipal de Infraestrutura, Jesimiel Pinheiro, no dia da assinatura da ordem de serviço, em 5 de julho de 2011: as obras seriam entregues num prazo de quatro meses. A segunda veio do secretário de Administração, Aérton Limeira, que informou em 12 de setembro de 2013 que a obra seria reinaugurada em 20 dias. Publicaram até que “A entrega da praça é uma determinação do prefeito James Ribeiro, que vem acompanhando de perto a realização dos serviços, na busca pela melhoria da qualidade de vida e lazer dos moradores”.
Pois, se a determinação do prefeito de nada valeu para dar a praça por concluída, o povo, legítimo soberano da praça, o lugar que materializa a ideia de público, resolveu ele mesmo inaugurá-la. Com a colocação de luzes no ambiente e a recuperação dos equipamentos esportivos, aos poucos a juventude ciosa por espaço retomou o lugar. Bem movimentado, ali reúnem-se diariamente não apenas os amantes de skate e bike, como artesãos, malabaristas, músicos, capoeiristas, pagodeiros, roqueiros, regueiros, pessoas de todas as idades num convívio diverso e saudável, como há muito não se via.
Segundo vendedores de lanche e artesãos que oferecem seus produtos na praça, a mais recente lorota veio semana passada, contada por Basto, secretário municipal de Urbanismo, que deu a entender que a venda de artesanato e de passaporte (sanduíche típico da cidade) é tráfico. Pela (absurda!) explicação dada pelo porta-voz da prefeitura para justificar o fim da venda de lanche e artesanato, a Caixa arrendou a Praça (hã?), e nenhuma transação comercial pode ser ali feita antes que o prefeito inaugure. O interessante é que o poder público, “tão preocupado com a melhoria da qualidade de vida dos moradores”, em vez de acolher, em vez de chegar trazendo informações de como o pequeno comércio poderá ser regularizado e potencializado no lugar, chega punindo, dando ordens de despejo contra os trabalhadores… É “amor, ordem e progresso”…
Sendo a praça do povo como o céu é do condor, parafraseando o poeta Castro Alves, foi marcada para hoje uma cerimônia popular de inauguração efetiva do espaço. O evento, que já tem confirmada no Facebook a presença de aproximadamente uma centena de pessoas, quer dar visibilidade à ocupação já existente e, ao mesmo tempo, por meio da arte, protestar contra o descaso verificado na Praça do Skate, comum aos mais variados setores do serviço público. Qualquer outra cerimônia de inauguração que se fizer depois desta, portanto, será como as explicações da prefeitura para a demora: representação, teatro, faz-de-conta…
Saiba mais a respeito:
Informações sobre o convênio no Portal da Transparência
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